O fim de todas as coisas está próximo
“O fim de todas as coisas está próximo. Portanto, sejam prudentes e estejam alertas por meio das suas orações.” (1 Pedro 4:7)
Os últimos acontecimentos no cenário geopolítico internacional reacenderam as discussões sobre a proximidade do fim. Sempre que algum evento envolvendo a nação de Israel domina as notícias internacionais, as discussões sobre escatologia bíblica voltam à mesa.
O grande problema dessas discussões é que muitas ignoram a resposta que se espera do cristão diante da consciência de que vivemos nos tempos do fim. Além disso, grande parte dessas abordagens é sensacionalista e carece de uma real fundamentação bíblica.
Uma vez que Cristo sofreu
O penúltimo capítulo da epístola escrita pelo apóstolo Pedro começa com um chamado à santidade e à obediência:
“… uma vez que Cristo sofreu no corpo, armem-se vocês também do mesmo pensamento, pois aquele que sofreu no corpo guardou-se do pecado.” (1 Pedro 4:1)
O apóstolo deixa claro que há uma relação lógica e direta entre o sofrimento de Cristo e a santidade do cristão que, em outro tempo, viveu em devassidão e iniquidade, mas agora, comprado pelo sangue de Jesus, segue o Mestre em santidade (v. 2–3).
Tal mudança de comportamento revela não apenas a transformação promovida pelo Espírito Santo, como também a consciência de que um dia prestaremos contas ao Senhor Deus, que julgará vivos e mortos (v. 5).
O fim de todas as coisas está próximo
Só depois de tratar do sofrimento e da santidade é que o apóstolo, então, fala sobre o fim de todas as coisas. Mas, ao contrário do que nossa escatologia moderna discute, o objetivo dele é completamente diferente.
O fim dos tempos é apresentado por Pedro como um catalisador do exercício das boas obras e dos dons recebidos de Deus. O fim não é o centro da atenção, nem motivo de especulação para o apóstolo.
Ele não se preocupa em ficar buscando sinais que indicassem se o fim dos tempos estava próximo ou não. Pelo contrário, algumas décadas antes, ele mesmo, em sua primeira pregação, já havia declarado:
“Nos últimos dias, diz Deus, derramarei do meu Espírito sobre todas as pessoas” (Atos 2:17a).
Para os cristãos do primeiro século, era evidente que estavam vivendo os últimos dias dos quais falaram os profetas. E a evidência maior da proximidade do fim era o derramar do Espírito de Deus sobre judeus e gentios.
A preocupação em saber quanto tempo ainda falta e qual é o sinal que indica a proximidade do fim é uma característica extremamente recente. E, no fim, ela se revela apenas um exercício de especulação que desobedece à ordem de Cristo expressa em Mateus 24:26–27.
Desde a descida do Espírito Santo, estamos vivendo os tempos do fim, e a expectativa de que Cristo voltará não é maior em nossa geração do que foi na geração dos apóstolos.
Entretanto, o grande problema é que, ao contrário deles, nós estamos perdendo o foco. Estamos mais preocupados em buscar os sinais do que em manifestar os dons que Deus nos entregou.
O apóstolo Pedro é extremamente claro ao correlacionar a proximidade do fim com a manifestação da graça de Deus por meio de nossas ações na vida cotidiana.
Ele declara:
“O fim de todas as coisas está próximo. Portanto, sejam prudentes e estejam alertas por meio das suas orações. Sobretudo, amem sinceramente uns aos outros, porque o amor perdoa uma multidão de pecados.” (1 Pedro 4:7–8)
Uma compreensão escatológica saudável leva o cristão a viver em prudência e vigilância, pois estamos nos tempos do fim e, da mesma forma, o impulsiona para o exercício do amor de Deus.
Pedro então discorre, nos apresentando como se espera que o amor seja manifesto:
“Sejam mutuamente hospitaleiros, sem reclamação. Cada um exerça o dom que recebeu para servir aos outros, administrando fielmente a graça de Deus nas suas múltiplas formas. Se alguém fala, faça-o como quem transmite a Palavra de Deus. Se alguém serve, faça-o com a força que Deus provê, de forma que em todas as coisas Deus seja glorificado por meio de Jesus Cristo…” (v. 9–11)
Deus concedeu os dons, e cabe a nós exercitá-los. Neste sentido podemos traçar um paralelo com a parábola dos talentos, ensinada por Jesus (Mateus 25:14–30). Enquanto está ausente, Cristo espera que nós, seus servos, administremos os talentos que recebemos para benefício do Reino.
E tal administração só acontece quando deixamos de lado pensamentos como: “não há nada mais para ser feito neste mundo”, “o mundo não tem mais jeito” ou ainda “a Igreja não tem mais nada para realizar” e passamos a revelar os valores de Cristo na hospitalidade, no serviço ao próximo e no ensino da Palavra.
Alguém que desiste da realidade em que vive é como o servo que enterra o talento e simplesmente aguarda o retorno do Rei.
O entendimento escatológico comum (que está em voga nas redes sociais e na compreensão geral) aponta na direção contrária. Olham para a realidade caída e, em vez de correrem em direção ao exercício dos dons, assentam-se, aguardando o fim de tudo como um espectador anestesiado pela iniquidade.
Cristo assevera, para evitar tal cenário:
“Por causa do aumento da iniquidade, o amor de muitos esfriará” (Mateus 24:12).
A iniquidade que o Senhor aqui declara está direta e indiretamente relacionada aos sinais do fim e isso acende um alerta: é possível observar os sinais e, ainda assim, deixar o amor de Deus esfriar.
Isso porque ser arauto do caos não é exercitar o dom profético. A profecia bíblica parte de dois pilares fundamentais: a condenação do pecado e o chamado ao arrependimento frente ao juízo iminente.
O apóstolo Pedro, assim como Cristo em seus ensinamentos, não nos convida a sermos meros espectadores da história, nem especialistas em decifrar os sinais apenas para exercitar a curiosidade especulativa. Somos chamados para sermos servos fiéis que, mesmo diante da iniquidade crescente, escolhem viver em amor, exercendo os dons e glorificando a Deus nos tempos do fim.
A pergunta que deveríamos fazer, portanto, não é “quanto tempo nos resta?”, mas “o que devemos fazer no tempo que nos resta?”.