Como se parecer como Jesus?

Fomos chamados por Deus para seguir os passos de Cristo Jesus, vocacionados para ser sal da terra e luz do mundo, para fazer a diferença nesta geração corrupta e para glorificar ao seu nome manifestando o Reino em nossa vida.

Escrevendo à Igreja em Corinto, o Apóstolo Paulo convida aos irmãos para seguirem o seu exemplo de vida assim como ele próprio seguia a Cristo Jesus (1 Coríntios 11:1), em outra carta ele convoca os fiéis para imitarem a Deus como um filho imita ao pai a quem ama (Efésios 5:1,2).

Sabemos que devemos imitar ao Senhor Jesus, sabemos que precisamos parecer com Ele, no entanto, surge a dúvida: como faremos isso? Como podemos seguir os passos de Jesus em uma geração tão corrompida pelo pecado?

Toda Escritura nos fornece as respostas para esta pergunta. No entanto, vamos tomar como base deste breve estudo o primeiro bloco de ensino do Sermão do Monte conhecido como: “As Bem-Aventuranças”.


¹ Vendo as multidões, Jesus subiu ao monte e se assentou. Seus discípulos aproximaram-se dele,
² e ele começou a ensiná-los, dizendo:
³ "Bem-aventurados os pobres em espírito, pois deles é o Reino dos céus.
Bem-aventurados os que choram, pois serão consolados.
Bem-aventurados os humildes, pois eles receberão a terra por herança.
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, pois serão satisfeitos.
Bem-aventurados os misericordiosos, pois obterão misericórdia.
Bem-aventurados os puros de coração, pois verão a Deus.
Bem-aventurados os pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus.
¹⁰ Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, pois deles é o Reino dos céus.
¹¹ "Bem-aventurados serão vocês quando, por minha causa os insultarem, perseguirem e levantarem todo tipo de calúnia contra vocês.
¹² Alegrem-se e regozijem-se, porque grande é a recompensa de vocês nos céus, pois da mesma forma perseguiram os profetas que viveram antes de vocês".

— Mateus 5:1-12

Bem-aventurados os pobres de espírito

Cristo inicia seu sermão atacando frontalmente toda e qualquer tentativa humana de requerer algum mérito ou justiça própria diante de Deus.

“Bem-aventurados os pobres de espírito”, Ele declara. A base para interpretarmos corretamente o Sermão do Monte está firmada nesta curta declaração muitas vezes ignorada por nós.

Nenhum homem ou mulher será capaz de obedecer aos mandamentos do Senhor, e muito menos de reconhecer Sua santa voz, se não estiver disposto a mergulhar nas águas da pobreza de espírito. Mas o que é "ser pobre de espírito"?

A “pobreza de espírito” apresentada pelo Mestre não diz respeito à condição financeira ou ao estado emocional em que se encontra a alma humana.

“Alguns cristãos doaram todas as suas posses com base nesta bem-aventurança, contudo um homem pode nada possuir e, ainda, não ser pobre de espírito.” (FERGUSON, 2019, pg. 32)

Na mesma medida “a pobreza de espírito [...] não é uma autoimagem negativa, na qual baixa estima, introversão e morbidez predominam” (FERGUSON, 2019, pg. 32).

Nem uma, nem outra definição está em questão. Jesus não tem em mente um homem financeiramente arruinado ou em profunda depressão.

A pobreza de espírito apresentada pelo Mestre é a condição na qual se encontra o coração do discípulo e que o conduz ao reconhecimento de sua fraqueza e dependência de Deus.

Naturalmente não há em nós nada que nos torne mais dignos de receber a aceitação e o favor divinos, todos pecamos e nos desviamos da presença de Deus, nos emaranhamos na iniquidade e sujamos nossas vestes com a transgressão (Romanos 3:9-20).

Por mais belas e louváveis que sejam nossas obras elas não passam de trapo de imundícia (Isaías 64:6).

Jamais seremos capazes de imitar ao Senhor Jesus sem nos despir do orgulho, prepotência e autojustificação.

Nunca alcançaremos a estatura de varão perfeito em Cristo enquanto confiarmos em nossa própria justiça.

Precisamos, assim como o publicano da parábola do Mestre (Lucas 18:9-14), nos apresentar diante de Deus com os olhos baixos, coração quebrantado e, batendo no peito, reconhecer que nada merecemos dEle.

O fariseu não consegue seguir o Mestre, pois seu orgulho o impede de aceitar e reconhecer sua insuficiência diante de Deus, o legalista jamais desfrutará da bênção de obedecer aos mandamentos, pois seu coração crê que há mérito em suas próprias obras.

Se desejamos parecer com Jesus o primeiro passo é reconhecer que não nos parecemos, naturalmente, com Ele. Necessitamos da graça e misericórdia divinas para isso.

O Reino dos Céus é dado somente ao homem e à mulher que, diante da cruz, reconheceram seu estado de depravação e confiaram na suficiência da obra de Cristo recebendo, pela fé, os direitos concedidos pela graça de Deus, sem mérito das obras.

Da mesma forma, o discípulo só conseguirá seguir o Mestre e replicar suas obras enquanto estiver caminhando sobre as palavras e méritos dAquele que o chamou.

Se desviar um centímetro que seja, para a direita ou esquerda, afundará no mar do próprio orgulho.

Bem-aventurados os que choram

Da mesma forma que Jesus não se referiu à circunstâncias meramente terrenas ao tratar sobre a pobreza de espírito, aqui o Mestre também não tem em mente o simples choro provocado pela dor da perda, pelo luto ou fracasso.

Cristo não está tratando de questões relacionadas ao reino do mundo, mas ao Reino dos Céus e, portanto, todas as bem-aventuranças apontam para realidades espirituais.

Desenvolver tal bem-aventurança é essencial se, de fato, desejamos lidar, tal como o Mestre, de forma santa com o pecado.

“... a tristeza narrada por Jesus é a aflição que o homem sente pela pecaminosidade que reside em seu próprio ser; é o arrependimento daquilo que a pessoa já provou ser desagradável ao Senhor.” (FERGUSON, 2019, pg. 36)

Se desejamos imitar ao Senhor Jesus precisamos, antes, desenvolver em nosso coração uma santa repulsa ao pecado.

Não há como seguir os passos de Cristo e refletir Sua luz ao mundo sem que antes nosso coração tenha aprendido a lamentar a perversidade que ainda insiste em permanecer enraizada nos cantos escuros de nossa alma.

Aquele que chora por causa de seus pecados pode descansar na certeza de que o próprio Deus consolará o seu coração.

Se desejamos nos parecer com Ele devemos, com fé e sinceridade, quebrar nosso coração aos pés do Senhor, lamentar pela nossa vil natureza reconhecendo que não há prazer neste mundo que pague o preço da ofensa de se pecar contra Deus.

A vida santa de Cristo só será impressa no coração daquele que reconhece sua pobreza de espírito e que se curva quebrantado diante de Deus para lamentar a debilidade e a incapacidade de seu próprio coração.


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Bem-aventurados os humildes

Algumas traduções trazem a expressão “mansos” no lugar de humildes (como apresentado pela NVI), contudo, ambos os termos apontam para a mesma realidade vislumbrada pelo Mestre.

Tal natureza de espírito não diz respeito ao homem e mulher calmos, fracos de presença ou com uma disposição débil para reagir diante das afrontas sofridas.

Lembre-se, as bem-aventuranças apontam para verdades espirituais e não terrenas.

A mansidão elogiada por Cristo é aquela gerada pela pobreza de espírito e pelo coração que chora por seus próprios pecados.

O homem se torna manso, pois ao se aproximar de Deus com o coração dilacerado e os olhos marejados pelo arrependimento recebe dEle o consolo da graça.

Ao reconhecer que não é digno de perdão, mas ainda assim desfrutou, pela fé, da justificação em Cristo, o homem passa a ter outra perspectiva de vida.

“O homem manso é o homem que compareceu ao julgamento de Deus e abdicou de supostos “direitos”. Ele aprendeu, em gratidão à graça de Deus, a submeter-se ao Senhor e a ser gentil com pecadores.” (FERGUSON, 2019, pg. 40)

O próprio Cristo declarou ser “manso e humilde de coração” (Mateus 11:29) e é essa a natureza que Deus deseja gravar no coração do discípulo.

Enquanto o mundo louva a violência, a vingança, o ódio, a demonstração de força, o Reino de Cristo é inundado pela mansidão.

Encerrando sua carta ao jovem pastor Timóteo, o Apóstolo Paulo o chama para viver uma vida santa, cheia de justiça, piedade, fé, amor, perseverança e mansidão (1 Timóteo 6:11), pois estas são as virtudes esperadas de um discípulo fiel ao Senhor Jesus.

Um cristão belicoso, iracundo e movido pela raiva não compreendeu a verdadeira natureza do chamado ao discipulado e ainda permanece longe da face de Cristo.

“Quando ofendidos, calam-se; quando agredidos, suportam; quando rejeitados, afastam-se. Não movem processos por seus direitos, não fazem alarde mesmo quando injustiçados. Nada reivindicam, mas entregam toda a justiça nas mãos de Deus.” (BONHOEFFER, 2016, pg. 81)

Longe de ser uma postura covarde e fraca, agir em mansidão é uma expressão revolucionária, pois ofende o mundo caído com a ética elevada do Reino dos Céus.

Enquanto os homens do mundo são guiados pelo desejo maligno de Caim, conduzidos pela vingança e pelo ódio, o discípulo tudo deposita nas mãos dAquele que conhece todas as coisas, se abstém de seus supostos direitos e reconhece que seu Reino e sua recompensa não estão neste mundo.

Todo aquele que assim vive, em mansidão, herdará a terra que, em obediência a Cristo não militou para conquistar, mas que na consumação de todas as coisas será conquistada pelo Cordeiro Vitorioso.

Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça

Jesus não elogia o homem que, diante de um crime hediondo ou ao contemplar as injustiças sociais, é tomado pelo desejo de justiça. Este é um impulso natural.

A fome apresentada por Cristão não é pela justiça humana, mas pela justiça de Deus que nos é imputada por meio da fé em Jesus Cristo.

Trata-se de um constante estado de insatisfação espiritual que conduz o discípulo para cada vez mais perto de Deus, que o estimula a orar mais, estudar mais da Palavra e a se santificar mais.

Tal postura, no entanto, não é motivada por sua própria vontade, por sua própria capacidade ou méritos, mas pelo Espírito Santo que já quebrantou o coração do discípulo retirando-lhe tudo e tornando-o faminto por Deus.

Em seu livro “Discipulado”, Bonhoeffer (2016, pg. 82) nos escreve dizendo que “os discípulos vivem não apenas a renúncia de seus direitos individuais, mas também a renúncia de sua justiça própria. Não esperam nenhuma glória para si mesmos no que fazem ou sacrificam”.

O cristão deve caminhar na direção oposta ao fariseu.

Enquanto o falso religioso corre para orar nas praças, o discípulo se esconde no quarto, enquanto o fariseu jejua com o rosto por lavar, o discípulo unge os olhos para que ninguém saiba que ele jejua.

Em tudo o discípulo se diminui para que e justiça e a glória de Cristo nele cresça.

Bem-aventurados os misericordiosos

O discípulo pobre de espírito, quebrantado de coração e sedento pela justiça de Cristo será, inevitavelmente, guiado em direção à misericórdia para com o próximo.

A convicção de que não possuí nada que o torne mais digno ou aceitável diante de Deus amaciará seu coração de pedra tornando-o benigno e bondoso para com os seus semelhantes.

“Nenhuma aflição é grande demais, nenhum pecado é horrível demais para a sua misericórdia” (BONHOEFFER, 2016, pg. 83).

Assim como o Mestre, o homem e a mulher, com o coração tomado pela misericórdia divina, coloca o amor de Deus em prática, estendendo a mão para os cativos, auxiliando os necessitados e perdoando os agressores, pois assim como eles mesmos foram perdoados por Deus, assim também em misericórdia oferecem do seu perdão.

Se alcançaram a misericórdia de Deus então transbordarão dela.

Bem-aventurados os puros de coração

De qual pureza Cristo estaria nos ensinando?

Embora possamos interpretar o ensino do Mestre como um chamado à santidade, o que Cristo tem a nos dizer aqui é um pouco mais profundo do que a abstinência do pecado.

Os puros de coração são aqueles cuja devoção não está dividida entre dois senhores, cujo coração não é governado por falsos deuses e ídolos.

“Ser puro de coração significa não permitir que nada se interponha entre nós e a visão que temos de Cristo” (FERGUSON, 2019, pg. 61).

É estar completamente despido dos trapos deste mundo para ser vestido pela glória de Deus, pela consciência pura do alto e pelos valores eternos.

Não há como seguir em direção à Betel sem antes lançar fora os ídolos e falsos deuses de nosso coração. Não há como imitar a Cristo sem antes permitir que Ele próprio grave em nossos olhos sua glória e majestade.

Bem-aventurados os pacificadores

Os discípulos de Cristo são chamados para levantar a bandeira da paz, não a paz que nos é difundida nas mídias, não se trata da ausência de conflitos. É a paz que excede a todo entendimento.

É esperado que a natureza do discípulo de Jesus seja pacífica, ordena-se que ele se abstenha de discussões, intrigas e dissensões.

A paz que recebemos de Deus por intermédio de Jesus Cristo não apenas acalma nossa alma com a certeza da reconciliação com o Criador, mas também nos faz viver sob uma nova perspectiva.

Esta paz permeia todas as esferas de nossa existência e nos conduz à mansidão e benevolência para com o próximo.

Tal paz capacita o discípulo para vencer o mal com o bem, amar aquele de quem recebe apenas o ódio e orar por quem o persegue.

Não há inimigos a odiar, opositores a perseguir, pois todo aquele que vive sob a paz de Deus não se rebela, não peleja e não milita por seus próprios objetivos e, portanto, não se torna inimigo de carne e sangue.

Bem-aventurados os perseguidos

Trilhar pelo caminho da obediência e imitação de Cristo não tornará a vida do discípulo mais fácil, ao contrário, o colocará em rota de colisão com os valores, princípios e modo de pensar deste mundo.

Cristo encerra o primeiro bloco de ensino do Sermão do Monte declarando que todo aquele que decide caminhar em Sua Palavra não deve esperar reconhecimento, aplausos ou gratificações deste mundo.

“Se vocês pertencessem ao mundo, ele os amaria como se fossem dele. Todavia, vocês não são do mundo, mas eu os escolhi, tirando-os do mundo; por isso o mundo os odeia” — João 15:19

Da mesma maneira que perseguiram os profetas e ao próprio Senhor, também perseguirão todo homem e mulher que, em resposta à graça de Deus, decidiu caminhar rumo à Nova Jerusalém.

Não estaremos no caminho certo se somos aceitos pelo mundo, não estaremos na direção correta se nossa mensagem não confrontar o pecado reinante nesta sociedade.

A perseguição, no entanto, não é provocada por nós mesmos, não é incitada por nossas más ações ou pelo falso testemunho, mas por causa de Cristo, “por minha causa” reforça o Mestre.

É a semelhança entre nós e Ele que motivará o ódio do mundo, é a luz refletida em nós que incitará as retaliações e ataques do mundo.

Todo aquele que deseja se parecer com Cristo deve estar ciente de que não está seguindo um caminho rumo ao trono, mas uma marcha em direção ao Gólgota.


Referências bibliográficas

BONHOEFFER, Dietrich. Discipulado. trad. Murilo Jardelino, Clélia Barqueta. 1. ed. São Paulo: Mundo Cristão, 2016. Disponível em: https://amzn.to/3GQzh6Z

FERGUSON, Sinclair. O Sermão do Monte. trad. Elmer Pires. 1. ed. São Paulo: Editora Trinitas, 2019. Disponível em: https://amzn.to/3YZj6uk